Carta da Maria
Eu sou a Maria.
Tenho 30 anos, supostamente a idade da maturidade. Parece que sim. Ou não. Desde que me lembro de mim que me pergunto como é que funciona a cabeça das pessoas. Vi "O Sentido da Vida" dos Monty Pythons, dei uma aula sobre doenças mentais no liceu e resolvi ser médica psiquiatra. Trabalhei nos hospitais mas desde Março que só faço "privada". Detestava os serviços de urgência e a precariedade das condições de trabalho. Dou aulas de Histologia e Embriologia, uma cadeira do 2º ano do curso de Medicina na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, já há 12 anos (comecei enquanto aluna e ainda lá estou). Tenho curso geral de violino, incompleto, do Conservatório Nacional. Tenho, é como quem diz, porque já não toco há 11 anos. Às vezes tenho saudades. Toco viola, para mim, e de vez em quando para os amigos. Passo a vida a cantar, mas nunca no duche. Habitualmente estou tão ensonada de manhã que não me ocorre nada que se possa trautear. A minha viola, que tem 23 anos, está empanada porque eu a levava para a praia e, longe da idade da maturidade, deixava-a ao sol. É difícil de afinar mas vai dando para o gasto. Tenho de lhe arranjar uma caixa porque a capa já nem fecho tem. Gosto muito, muito de cinema, gosto muito, muito de ler, gosto muito, muito de desporto, mas gosto sobretudo muito, muito, muito de não fazer nada. Não gosto de pessoas intolerantes nem de cogumelos. Adoro sapatos. Fui, ou sou, não sei bem, manequim. Estou ainda na Elite, mas de há uns tempos para cá sinto-me um bocado na idade da reforma. O tempo e a paciência para ir aos castings é cada vez menor. Estive 5 anos ligada à RTP. Fiz a "Meteorologia" durante mais de 1 ano e meio, o "Companhia dos animais" durante quase 3 anos e o "Guia dia-a-dia" durante 7 meses. Faço Body Pump, Body Combat, Hip Hop e o que houver, quando chego fora de horas ao ginásio. Mas gosto mais da água. Ski aquático é a palavra mágica. Falo português o melhor que posso, inglês e francês. Ah!, e sei dizer "Olé" em espanhol. Não percebo nada das novas tecnologias e as máquinas avariam todas quando eu me aproximo. Estou a tentar um acordo de Senhoras. Eu não as importuno e elas não me importunam a mim, mas está difícil. O melhor que o dinheiro pode comprar são as viagens. Adoro! Um dia vou comprar um Catamaran, daqueles muito grandes e passar anos a navegar por todo o mundo. O bem supremo da vida é a saúde (ou não fosse eu médica), mas o melhor é o amor. A rádio está a ser uma das coisas mais giras que já me aconteceram. Eu já era fã devota e incondicional do "Programa da manhã". Estar a trabalhar ao vivo e a cores com o Pedro, o Nuno, não esquecendo o Bruno, é mesmo a melhor terapia para o meu mau humor matinal.
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